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Turismo, Cultura e Desenvolvimento

Estive recentemente visitando e estudando as inovações relacionadas a experiências sensoriais proporcionadas por parques temáticos nos EUA. É incrível como algumas atrações conseguem transportar os visitantes a experienciar sensações incrivelmente reais como voar em um Avatar, pilotar uma espaçonave, interagir com super-heróis. Aparentemente, em um futuro não muito distante, será possível viver experiências exóticas e distantes sem ter que viajar.
Entendo que a diminuição da distância entre o real e a fantasia ajudará na concretização de muitos sonhos, que até então seriam impossíveis de viabilizar.


Isso significa que o turismo está com os dias contados?
Certamente não!! Principalmente quando nos referimos a experiências autênticas ligadas a convivência com culturas locais e suas manifestações, e a possibilidade de interações com situações inusitadas e que ainda não são possíveis de serem transformadas em algoritmos.


A este contexto pode-se agregar e valorizar o crescente desejo de turistas por experimentar situações verdadeiras (em oposição às atividades minuciosamente preparadas e ensaiadas) ao mesmo tempo, em que se consolida o interesse em viagens que integrem o viajante à realidade local, quando então a relação visitante – visitado passa a ser de interação e não de observação.


Essa experiência dos viajantes, associada à crescente consciência socioambiental em relação ao consumo em destinos turísticos, veio ampliar a percepção dos elementos que verdadeiramente integram o produto turístico. Foge-se aqui do reducionismo industrial para se adotar uma perspectiva holística da oferta que já não seria apenas constituída pelos serviços de hospedagem, transportes e alimentação, mas também pela qualidade territorial, sociocultural e ambiental do território.


Neste contexto é possível perceber o desenho de novos modelos de desenvolvimento, de gestão e operação do turismo comprometidas com valores mais amplos que aqueles que vieram norteando a criatividade humana nos últimos séculos. Assim, essa relação provoca a reflexão, a criatividade e o desenho de novas tecnologias com um novo tipo de turismo, aquele que poderá competir com a realidade virtual e com o acesso fácil à informação.


Assim, o turismo, quando qualificado a partir de uma perspectiva de convivência e interação, pode contribuir não apenas para o desenvolvimento socioeconômico das regiões visitadas, mas também com a valorização da diversidade étnica e cultural dos destinos. Pode também estimular processos sustentáveis de estímulo à economia criativa e valorização do patrimônio, neste caso em particular do patrimônio cultural, considerando a interdependência cada vez mais consolidada que existe entre Cultura e Turismo e suas oportunidades únicas de manifestação.


Tudo isso fervilha numa equação complexa que sustenta o esforço pelo desenvolvimento de ofertas turísticas diferenciadas com estratégias capazes de contribuir, por um lado com a eficácia e transparência da comunicação do destino turístico com o mercado, e por outro, com a mobilização social necessária para estimular processos de inclusão social, da oportunidade de convivência e da inovação.

É preciso unir o esforço de leitura ao esforço de interpretação de oportunidades ainda não exploradas e que despertem nas comunidades a identificação necessária para sua participação (cri)ativa e valorização dos aspectos socioambientais, num processo dinâmico de valorização catalisado pelo turismo e que se desdobra naturalmente em ofertas turísticas de cunho endógeno e por tanto social e culturalmente sustentáveis.


Sendo assim, e no limiar de uma nova década, a provocação que faço é pensarmos o turismo como uma dinâmica capaz de projetar um conceito inovador de interação turismo-cultura-desenvolvimento, amparado nas melhores práticas da sustentabilidade e das boas relações. Os suportes desse cenário devem incluir não apenas a ressignificação e a interconexão de vocações culturais identificadas no destino, mas também o apelo à participação coletiva, o estímulo à atividade empreendedora e a materialização de um processo de convocação de âmbito local, nacional e mesmo internacional.
Caso contrário, uma atração da Disney seria suficiente para garantir que conhecêssemos todo o nosso planeta.

Vamos em frente!